Primeira Campainha: esposa ou marido?

171 e Primeira Campainha se casaram no Festival de Cenas Curtas, confira aqui

buteco171

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Crítica. Av. Pindorama 171. Festival de Cenas Curtas



Festival de Cenas Curtas ... O DIA SEGUINTE...
14/06/2008TRÊS CENAS EM SINTONIA: UM TEMA A SER DISCUTIDO, O TOM CRÍTICO E AS FIGURAS DE LINGUAGEMPor Soraya Belusi
Ao contrário da noite anterior, em que a diversidade definiu o tom do 9º Festival de Cenas Curtas, a terceira noite de apresentações foi marcada por uma certa sintonia entre as três cenas apresentadas. Detalhe: apenas três cenas foram mostradas já que, por uma infelicidade, os artistas que fariam a cena carioca “A Separação” não puderam chegar a Belo Horizonte. Essa sintonia de temáticas, formas e estilos pode ser mera coincidência, mas, também, conseqüência dos “coletivos” que foram formados e a trajetória dos criadores envolvidos. Tanto em “Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões”, primeira cena da noite, quanto em “Av. Pindorama, 171”, os artistas envolvidos vêm de “um mesmo planeta”: uma reunião de criadores formada no Palácio das Artes reunida com a turma formada no Oficinão do Galpão; só para sintetizar o raciocínio. Portanto, nada mais natural que haja uma afinidade “estética” e, por que não, “ética” entre elas. Mas, vamos por fases. Comecemos com “Sobre Galinhas, Ovos e Dinossauros”. A ironia, no melhor dos sentidos, é elemento presente desde o primeiro momento, com aquela voz de ventilador e um clima de videokê. A sensação que tive era a de estar assistindo a algum programa de televisão no qual se debate, em tom de formalidade e extrema importância, as mais estúpidas futilidades. Teorias complexas e cheias de vazio. Radicalizar o recorte sobre um tema pode ser arriscado, mas, nesse caso, construir uma “teoria” – ou várias – resultou de forma positiva. Cada cena se apropriou de uma forma para falar. Diria que “Sobre Dinossauros, Galinhas e Dragões” seguiu o caminho do pastiche que, só funciona, se os atores em cena interpretarem levando tudo muito a sério. E assim fizeram. O jogo de defender a teoria sob a perspectiva de várias personalidades da história da humanidade não só criou uma dinâmica interessante para a cena, como também estabeleceu contato direto com a platéia, que dominava os signos com os quais o jogo estava sendo estava sendo estabelecido. A segunda cena apresentada foi “O Homem do Fusca”. Os primeiros momentos da cena me fizeram concluir que, se alguma figura de linguagem definisse a proposta, eu escolheria a metáfora. Um fusca – embora seja um produto alemão é a cara do povão brasileiro – perdido num mar de carros populares e importados, num engarrafamento sem fim, dentro de um túnel onde ninguém anda para frente, nem para trás. Uma espécie de congestionamento anunciado por Ignácio de Loyola Brandão em “Não Verás País Nenhum”. As malas no lugar dos “realistas” carros foi uma escolha superacertada, que muda o objeto, mas não sua idéia central, a do transporte, da locomoção e deslocamento. A questão é que, em certo momento da cena, os criadores abandonam a opção da metáfora pela do discurso direto, colocando os problemas e a indignação com o que acontece no país – sem dúvida a mais pura verdade com a qual, obviamente, concordamos – na boca do personagem. Essa escolha fez com que a cena tomasse um caminho de “já ouvi esse discurso”, que tão sabiamente os criadores evitaram no início. Uma outra coisa que poderia acrescentar ainda mais na construção da cena é que o personagem tivesse uma trajetória mais calmamente construída, no sentido de que ele já se apresenta “explodindo” de indignação e, daí para frente, fica difícil recuar. E chegamos à “Av. Pindorama, 171”. E a alegoria ganha o palco do Cine Horto. Símbolos da cultura – ou da desgraça – brasileira são os elementos constitutivos de um jogo no qual a trajetória dos personagens se cruzavam: o que Carmem Miranda, o entregador de pizza cujo nome não importa, a ambulante, a mulher do telefone, a passista e o “fanático religioso” têm em comum: tudo! Me desculpem a comparação, mas sabe aquela coisa meio Iñárritu (leia-se “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”) de que um único acontecimento detona uma confluência de fatos na vida de várias pessoas? Pois é isso: nesse caso, um acidente com um caminhão carregado de bananas. O palanque, que poderia ser considerado um elemento meio “simplista”, tem tudo a ver com a cena, com a idéia de um espaço popular, e foi muito bem usado porque não esbarrou no discurso “panfletário”. “Av. Pindorama, 171” é um grande “mercadão” de símbolos do Brasil, que lutam para sobreviver, assim como as “...Galinhas...”, que, coitadas que nem o “Homem do Fusca”, não têm para onde fugir, mesmo tendo asas.

2 comentários:

meninamulher disse...

BRAVO!

Índigo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.